Empreender é uma jornada de resiliência, coragem e visão. Andrea Feine, empresária em cortinas, persianas, papeis de parede e toldos, é a prova viva de como a força feminina, aliada ao espírito empreendedor, pode transformar desafios em conquistas. Sua trajetória, que começou em Estrela (RS), é marcada por episódios que revelam não apenas sua capacidade de liderança, mas também sua sensibilidade em ajudar outras mulheres e sua determinação em superar adversidades.
“Eu sempre fui líder de classe na escola, e as pessoas gostavam das minhas ideias”, relembra Andrea, explicando que os primeiros traços de liderança surgiram ainda na infância. Seu primeiro contato com o mundo dos negócios veio através de sua sogra, dona da Loja Celi, uma mulher à frente do seu tempo. “Naquela época, eram os homens que geralmente assumiam os negócios, mas a minha sogra era uma empreendedora nata, e o negócio dela levava seu nome, o que era muito pioneiro para uma mulher”, diz Andrea.
Foi durante uma dessas experiências na loja que ela conheceu uma mulher do interior que, após longos dias de trabalho na roça, ainda costurava suas próprias cortinas. “Eu fiquei admirada com a força dessas mulheres do interior. Elas cuidavam da família, dos filhos, do marido e da roça. Eram mulheres muito empreendedoras. Elas produziam muito e ainda nas horas de descanso queriam ver a casa bonita. Essa senhora veio comprar o tecido na loja da minha sogra e eu fiquei muito curiosa com a história dela. Lembro que cheguei em casa depois e disse a meu marido ‘nossa, conheci hoje uma pessoa incrível, uma mulher admirável. Ela comprou tecidos e vai fazer tudo sozinha e eu gostaria muito ajudá-la de alguma forma. Ao menos medir, organizar para ela os tecidos, talvez até costurar se ela quisesse’. E aí começou o meu negócio. Vinte e seis anos atrás. Mas eu não tinha ideia de abrir uma empresa de cortina, eu queria simplesmente ajudar essas mulheres”.
Os desafios de empreender do zero
Andrea destaca que o início não foi fácil. “Eu não tinha condições financeiras para começar, então tudo que eu precisava comprar era de segunda mão”, relembra. “O carro que eu usava para medir cortinas muitas vezes quebrava na frente da casa dos clientes. Eu morria de vergonha de pedir ajuda, mas ainda assim nunca tocava a campainha do cliente. Eu pedia ajuda ao vizinho!” Esses obstáculos cotidianos, no entanto, nunca a desanimaram. “Já tive dias que quis desistir, mas essa vontade sempre passava”, diz, com um sorriso resiliente.
Andrea atribui sua força a uma experiência pessoal profunda: “Quando nasci, minha mãe foi diagnosticada com câncer e lutou contra a doença por seis anos, passou esse tempo todo no hospital e faleceu quando eu tinha seis anos. Talvez ver a luta dela tenha me dado essa resiliência. Quando vivemos uma dor profunda, que nos marca, passamos a encarar as adversidades apenas como uma adversidade e não como grandes problemas”, reflete.
A chave para o crescimento: delegar e pedir ajuda
Um dos maiores desafios para Andrea foi aprender a delegar e deixar de ser uma empreendedora centralizadora. “Esse processo é a verdadeira virada de chave para o crescimento de um negócio”, afirma. Ela reconhece que não foi fácil. “Tive que buscar ajuda de profissionais para conseguir delegar. É um processo doloroso, porque você sente que está entregando seu filho para outra pessoa cuidar”, compara. Contudo, essa transição foi crucial para o sucesso de sua empresa. “A empreendedora centralizadora precisa deixar de existir para se tornar uma empreendedora gestora. É preciso passar por esse processo, por mais doloroso que seja. E precisamos de muito apoio para isso”. Nesta empreitada, ela contou com profissionais inclusive para criar métodos processuais que perduram até hoje na empresa.
Andrea acredita que saber pedir ajuda é uma das maiores inteligências de uma empreendedora. “Muitas vezes achamos que conseguimos fazer tudo sozinhas, mas isso é uma cilada”, alerta. “Precisamos pedir ajuda para evoluir”.
Além disso, a empresária destaca a importância de ter apoio em casa. “Acredito que você estar ao lado de uma pessoa que te apoia é fundamental. E, para isso, é preciso muito diálogo. Parece óbvio, mas muitas vezes temos dificuldade de verbalizar nossos sonhos, nossos desejos, o quanto nosso empreendimento irá nos realizar não só como profissionais, mas como mulheres. E a parceria nessa hora conta muito. Eu tive isso e foi fundamental”, avalia Andrea.
Liderança feminina: maternidade e empatia
Em sua trajetória, Andrea reflete sobre as qualidades que diferenciam as mulheres no empreendedorismo. “A mulher tem um olhar mais cuidadoso, quase materno, para com sua equipe. Não que os homens não sejam cuidadosos, mas as mulheres têm uma sensibilidade emocional mais forte. Mesmo as que não são mães, trazem essas qualidades para dentro de uma empresa, para seu time”, afirma. Ela acredita que liderar pela admiração, e não pelo medo, é fundamental. “O empreendedor precisa processar suas emoções antes de verbalizá-las. Essa impulsividade pode prejudicar relacionamentos com o time e até mesmo com os clientes. A gente deveria processar muito as emoções antes de falar com as pessoas. O equilíbrio emocional é uma grande qualidade de uma empresária de sucesso”.
Sororidade e equilíbrio
Andrea destaca ainda a importância da sororidade entre as mulheres empreendedoras. “Apoiar umas às outras é essencial. Muitas vezes, julgamos sem necessidade. Precisamos focar nas qualidades que cada mulher tem a oferecer”, aconselha. Para ela, é vital que as empreendedoras encontrem equilíbrio entre as responsabilidades profissionais e pessoais. “Além da carga de gerir uma empresa, temos também a demanda de cuidar de nós mesmas, e isso é algo que não podemos ignorar”.
Inspiração
A frase destacada na comunicação da sua empresa traz uma importante reflexão: “negócios são pessoas”. O treinamento, a dedicação, o comprometimento e a inovação são os pilares da sua empresa, que conta atualmente com 60 colaboradores, divididas em três unidades, sendo a loja matriz Lajeado, no Vale do Taquari, uma loja filial em Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo e uma unidade de negócios em Gramado, na Serra Gaúcha.
