FOTOGRAFIA
A mulher assume tantos papeis que fica difícil elencar.
Mãe, administradora do lar (por que sim, nossas casas são verdadeiras empresas nas quais cada setor
tem que estar funcionando direito para a rotina não nos engolir), empresárias, trabalhadoras, filhas, amigas, pesquisadoras, conselheiras, esposas, namoradas, e tantas outras identidades que fazem parte de nosso dia-a-dia. Mas talvez uma delas seja a que mais facilmente a gente deixe de lado: a de mulher.
Nutrir nossa feminilidade acaba ficando em segundo plano.
Nosso lado mulher muitas vezes é coadjuvante diante de tanta sobrecarga. Encontramos na fotografia uma forma de, entre luz e sombra, ter uma mulher revelada.
Conversamos com a Fany Machado e, já que estamos falando de identidade, vou introduzi-la como ela mesmo se apresenta:
Fotógrafa de iPhone, especialista em retrato feminino, maquiadora há 36 anos. Mas, ao conversar com Fany, ela se revela uma mulher empreendedora, corajosa e capaz de aflorar a feminilidade das outras mulheres.
Ela iniciou sua carreira como fotógrafa e, após 23 anos, resolveu tornar seu trabalho freelancer (maquiadora) seu
novo empreendimento, abrindo um salão de beleza em 2013 e aposentando as câmeras e flashes. O salão deu muito certo e chegou a pandemia. “Quando todo mundo se isolou, foi um momento em que parei para refletir, pensar em mim, no estilo de vida que eu queria para mim. Resolvi abandonar o salão e iniciei sozinha um estúdio de maquiagem. Minha família foi contra, acharam loucura eu fechar as portas e abrir, em plena pandemia, um novo negócio voltado apenas à maquiagem. Mas eu sempre tive muita segurança. Eu acho que isso é a base de qualquer negócio em qualquer ramo. Eu tinha certeza que seria um sucesso. Eu não cogitei que poderia não dar certo. Isso sempre me acompanhou: sempre tive absoluta segurança de que o que eu faço é com tanto empenho, sempre priorizei o meu trabalho, que sempre vai dar certo. Então todo meu esforço e
dedicação me blindaram do medo de iniciar uma nova carreira, mesmo em meio a uma pandemia”, relata Fany.
Experiências que inspiram
“Fazer as fotos foi um momento único.
Foi um momento de transição, eu tive o
segundo filho e estava me reencontrando,
entendendo quem eu era como mãe,
como mulher. Me ver através das fotos foi
maravilhoso, foi uma reconstrução de auto
estima, foi me ver em versões que eu nem
mesmo imaginava. Recomendo que as
mulheres se permitam serem vistas através
de outros olhos.”
KAREN VIEIRA
“Foi uma experiência muito especial, a
Fany consegue revelar o que temos de
melhor, nossa beleza interior, ela faz brotar
através da alegria, da forma que nos faz
sentir leves e lindas. Um ensaio assim vale
para a vida, para nossa auto-estima.”
RÚBIA MEINERTZ
A virada de chave para a fotografia
Foi num dia das mães de 2021 que veio a virada de chave. “Eu maquiei uma cliente e a convidei para fazer umas fotos dela e da filha, com meu telefone mesmo, para eu colocar na rede social para divulgar o trabalho de maquiagem. Com meu iPhone, fiz registros dela se maquiando, da filha maquiando a mãe e vice-versa. As fotos ficaram lindas, fui postando o material para divulgar meus cursos de automaquiagem e meu direct bombou.
Muitas clientes perguntando se eu tinha voltado a fotografar e pedindo que eu fizesse registros. Eu não tinha câmera, nem luz, nem pacote para isso, mas elas queriam mesmo assim”, conta a fotógrafa.
Foi nesse momento que Fany se deu conta de que sentia falta da fotografia e, por meio dela, poderia atender uma demanda que crescia para o público feminino. “Hoje minha renda principal vem da fotografia e do que eu amo fazer: retratos femininos. Minhas fotos são acessíveis a todas as mulheres.
Quando chegam aqui, escuto o relato delas. Elas descobrem que se vêem como mães, como esposas, como profissionais, mas fazia muito tempo que não se viam como mulheres. Em algum momento, paramos de nos priorizar e é muito bacana ver essa transformação. Cada uma tem uma história, cada uma tem sua
dor. Algumas estão em busca da auto estima, outras querem se sentir mulheres poderosas e bonitas, muitas me procuram para fotos corporativas, voltadas a um estilo mais profissional. Hoje as mulheres buscam os mais diferentes propósitos por meio da fotografia. E o retrato feminino é isso: entender o que aquela
mulher quer com as fotos, o que isso significa para ela, e retratar aquele universo feminino a partir da busca dela”, explica Fany.
Ela conta que ela mesma faz todos dela todos os alunos para se olhar e pensar na grande mulher que é. “Gosto de me proporcionar esse momento de me olhar e me curtir. Mesmo sendo maquiadora, não é todos os dias que acordo e me arrumo,
muitas vezes a rotina nos engole. Mas, é preciso parar para se permitir esses momentos”, analisa.
Desde sempre, o retrato feminino a atraiu na fotografia. “A mulher hoje tem um papel incrivelmente forte. Dá conta de muitas coisas e ainda assim tem que ser mulher, de frágil não existe nada no universo feminino. Enxergando tudo que enxergo aqui vejo a nossa luta e o quão fortaleza somos. Todas as mulheres tem sua beleza. Durante a maquiagem a gente vê as dores, o que se busca naquele ensaio. Muitas vezes é um divórcio
difícil, ou uma sensação de solidão porque os filhos saíram de casa, ou simplesmente o cansaço da sobrecarga. É preciso sensibilidade para conseguir ler, ver o que naquele momento aquela mulher busca. A gente vê nesta conexão o propósito das fotos”, conclui.
